Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar de modo tal que até da vida desesperamos” (II Coríntios 1:8).
Encontrava-se Paulo na Ásia, uma província Romana cuja capital era a cidade de Éfeso. Não se sabem os detalhes das circunstâncias que envolveram a sua vida naquele local a ponto de usar expressões muito fortes sobre o estreito pelo qual estava passando
Manifestou uma aflição que o lançava além da medida que podia suportar (ὑπερβολὴν (hiperbolen): lançamento além, excesso violento) que expressa “algo acima do poder de suportar”, uma verdadeira carga pesada ao normal da vida.
Faz uso do verbo βαρέω (baréo – no sentido de ser pressionado para baixo por um grande peso). Em seguida, cita o verbo ἐξαπορέομαι (ekssaporeomai) que significa desespero, angústia, ausência da possibilidade de solução em situação de grande dificuldade, cair em total perplexidade a ponto de desesperar-se da vida.
Em outras palavras, Paulo encontrava-se num beco sem saída: “de modo que ficamos totalmente sem escapatória” (Plummer). No verso 09 disse: “Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos”.
Nesse verso, fala de “sentença de morte” usando a expressão grega ἀπόκριμα (apokrima), ‘sentença’, ‘resposta’, ‘veredito’, vocábulo jurídico de decisão final de uma petição. Sentença de morte – ἀπόκριμα τοῦ θανάτου (apokrima tu thanatu).
Finalmente, fala do livramento ou escape sobrenatural que lhe vem do “Deus que ressuscita os mortos” como uma força poderosa à semelhança de ressurreição. Faz-se presente o verbo grego ἐγείρω (egheiro) que, no imperativo, tem o sentido de venha, levanta! (W. Gingrich).
Temos muito que aprender com essa estranha e dolorosa experiência de Paulo, pois ele mesmo disse: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados de Deus” (2 Coríntios 1:3,4).
Quando alguém está passando por um estreito, ou mesmo, no “largo deserto”, como se sabe, é para o treinamento e adestramento da sua fé, para que a mesma, que é mais preciosa do que o ouro, também seja purificada pelo fogo (I Pedro 1:7).
Como disse Jesus a Pedro sobre o que estava se passando com ele naquele momento, ele só poderia entender mais tarde: “Respondeu Jesus e disse-lhe: O que eu faço, não o sabes tu, agora, mas tu o saberás depois” (João 13:7).
Mas, para que Paulo pudesse deixar o grande legado ou “patrimônio bíblico” à posteridade, através da contundente e conhecidíssima citação de Filipenses 4:13 (“Posso todas as coisas naquele que me fortalece”), expressou, nos versos 11 e 12: “já sei”, “já aprendi”, “estou instruído” (em todas e quaisquer circunstâncias!) Filipenses 4:11-12. Sim, Paulo conhecia a ação de Deus na prova e nos livramentos.
Pr. Dr. Agnaldo Sacramento